mort mot juste

janeiro 29, 2016

prece da filha de fé

se eu fosse a mãe d'água eu me levava pro fundo do mar, que hoje eu não presto e nem sei nadar. se eu fosse xangô me fazia pedra e atirava na cachoeira, mais uma pra aumentar o som da choradeira e pra oxum cuidar. e quando chegasse a hora eu saía da água nua, voltava não pra minha casa nem pra sua, mas tomava uma trilha na mata pra deitar no ombro de oxóssi e chorar. se defumar com todos os incensos da índia ainda não se dissipa esse turbilhão. se eu fizer de erva todos os banhos e ver passar todos os rebanhos do boiadeiro que vem dar conselho eu ainda me olho no espelho e vejo um borrão. se o santo fumar todos os cigarros e eu ler a boa sorte nas cinzas ainda não me livro das angústias que são só minhas. se vier o marinheiro com seu papo de velho amigo eu canto pra que se retire e guardo a tristeza comigo. ainda que tragam lírios da beira do rio pra enfeitar minha casa não me distraio do vazio que rasga e agradeço, mas não sorrio. mas mesmo que eu insista na perdição de me ver incapaz, oxalá me cobre de branco e como só ele faz, retira dos meus olhos a cegueira e acorda em mim a lembrança de que eu posso até ser andarilha, mas ainda sou sua filha.

maria 11:28 PM 0 vociferando estavam



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