mort mot juste

agosto 27, 2006

for rose-red ruby

[this was scribbled a year ago]


As botas pretas meio disformes e sem graxa afundando na terra, 'essa cidade vai inundar logo', você queria andar até onde estava enxergando e nunca conseguíamos parar. Não era difícil separar o seu entusiasmo artificial [nunca teatral] da sua vontade de segurar o cinza até que pudesse atirá-lo ao nada quando chegássemos ao ponto no qual acabavam as árvores ao longe e as nuvens sem chuva.
Eu imaginava um chão com petróleo pegajoso derramado e uma parede escura.
Mas você não perdeu tempo imaginando, e encheu os brônquios com aquela poeira toda até começar a dor e a tosse.
Eu lembro daquele líquido saindo dos seus pulmões, e o que você fez? Uma lágrima. Uma lágrima quase caindo e você secou rápido, antes que eu desistisse, e os dentes se chocavam uns contra os outros, você não precisava de um casaco, disse.
Queria parar de olhar para baixo, não pude, as folhas apagavam os cortes, rastros das tais árvores do 'longe' inflamados e você os chutava.
Gritariam as vozes sem dono e ouviríamos o barulho de asas em retirada e pavor.
Tontura recorrente dos dias errantes encarando o barro. A sua língua estava seca, meus olhos fechando. E isso nunca importou, não é?
O chão passava, mas nós não pássavamos. E você sempre soube.

A mesma cena hoje, e correria o grafite enfaixado inteiro e junto com as máquinas eu aterrissaria na sua frente, morta e sem veias, nem linhas diagonais nos olhos.
E eu tiraria o vermelho dos seus, abraços à parte, acho que o mundo pode acabar agora.
Pensei numa alternativa para as mãos machucadas agarradas a um último galho, e seria simples e macia como uma corda de seda.
Você gostava da neve porque era sua.
Mas eu ficava parada demais e o seu rosto apontava para qualquer outro lugar.
Você não gostava do cinza, fora nos concedido com um prazo.

maria 4:31 PM 0 vociferando estavam



ao rés da fala