mort mot juste

janeiro 22, 2008

Vem com tuas Pedras (Cidade dos Cães)

Pt. I

Seu corpo se encaixava no sulco da terra, o peito oscilava num ritmo confortável. O vento, em outro.
Nos encarávamos, ele dormia, meus olhos coçavam. A cidade inteira estava de acordo com a suspensão da chuva, com a música das aves nos parques suntuosos e com os assaltos diários.
Só porque eu havia perdido o trem para a serra.
Suas narinas expeliam o mesmo ar suado da tarde. Hoje já era passado há vários anos de verão; respirávamos juntos.

Pt. II

Havia se machucado -e ainda estava claro, o cão ainda repousava na terra, ainda era de tarde e eu ainda acreditava que conseguiria embarcar no próximo trem- e não havia nada que eu pudesse fazer. Por não poder tocá-lo, pelo receio que encobria meu nojo. Procurou meu olhar pela primeira vez, quem me feriu?, retribuí sua súplica encarando os trilhos e também o rosto tombado na janela do próximo trem.
Insistiu ainda, mas eu desconhecia seus códigos nobres, e andava sobre duas pernas de um lugar ao outro me ocupando da tarefa elevadíssima de atribuir sentidos a acontecimentos coincidentes sem porcaria de relação nenhuma entre si. Éramos estranhos um ao outro novamente, e ele, que ainda não havia se levantado, aproximou o nariz do acúmulo de sangue sobre o pêlo marrom. Seguimos- os viajantes- em direção a destinos paralelos, eu com os olhos e ele mancando de uma pata traseira.
A hora entrou morna e sem anúncios, falas arrastadas de homens começaram a se fazer ouvir, primeiro de longe.

Anoiteceu: há marcas no asfalto, mas não as vi.
Os cães da cidade trotam certeiros, eu os sigo; me conduzem em círculos que não compreendo unicamente por não ser um cão. As luzes da estação foram acesas, o trem não passou. Levanto-me do chão e perco a rua principal na minha certeza de encontrá-la.
Dormem todos.


maria 1:02 PM 0 vociferando estavam



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