mort mot juste

outubro 22, 2007

iguais

erro pequenino
pequeno pássaro
cão como eu
que também não sabe
para onde vamos
quando somos
esquecidos

maria 8:22 PM 2 vociferando estavam

andanças

amanda naquele parque
vadio e pobre
com água patos lama
infitito mais bonito que a rua
que as lojas
que as fotos
nas lojas
de porta-retratos
(talvez por estar mais perto
que nova york paris viena)

amanda naquele parque
e algo parecia errado

talvez se um poema
desse conta
se alguém contasse
se valesse um conto

mas ninguém achou
que faria diferença
o sol partido em três
as árvores-cópias
uma da outra
amanda sentada
na ciclovia
querendo que um
dos rostos (eram vários)
durasse mais
que só passar
e abrisse a boca
mesmo que
bem
pouco

mulher gorda
da pele escura
do barro do lago
pediu dinheiro
ou qualquer coisa
amanda
já tinha esgotado
as maneiras
de dizer não

alguém achou bom
e fotografou
amanda nos jornais
sem saber dizer não
os três sóis do parque
esquecidos

maria 7:52 PM 0 vociferando estavam

outubro 13, 2007

snowed-in

child
stick
child
snow
do i even know you?

well humor me a little since you're here
i'll show you how,

just tell me:
-that i'll grow hands
-that i'll grow legs
-that i'll grow skin
-that i'll feel cold

oh don't you drop the list on the ground,
i beg of you.
the effort of writing lists
when you have no fingers.

you wouldn't understand.

the moon replaces the children
who am i talking to?
to myself
again
damn winter. i say
either you melt me or
you help me
no use for moonlight
where i'm standing.

i'm a freaking snowball
and oddly,
an emotional one.

my tile eyes
despite the fact that they're tiles
do long for a certain snowboy
they even glow.

even though i'm a snowball i can assure you
i qualify for being in love.
i could be a human just like you.

it just turns out


i'm not.

humor me i'll glow
oh what's the point?
i'll never move
i'll never talk
you'll never know

there's some tragedy
in the fact that
i'd be buried in snow up to
my neck
if i had a neck,

snowed-in,
and thinking of you.

maria 12:27 PM 3 vociferando estavam

outubro 09, 2007

dia do julgamento final- um 'exercício de relax' sem pretensões literárias.

o dia do Ajuste de Contas chegou, e mandaram lá dos estratos mais altos da República- ou do céu- um cavaleiro para tratar das execuções.
o seu trabalho era matar todos mesmo, sem perdões. porque todos haviam sido mentirosos, beberrões, impiedosos, adúlteros, traidores, arrogantes, ambiciosos, amantes dos prazeres, amantes do dinheiro, fumantes, injustos, fornicadores, preguiçosos, espertalhões, curiosos, indecentes, gulosos, iracundos, vaidosos, mesquinhos, castos, generosos, comedidos, diligentes, pacientes, caridosos, humildes, engraçados, austeros, altos, baixos, feios, boa-pinta.
como eu dizia não se salvava um. momento propício para o narrador oniciente resolver começar uma história: pude assistir a tudo de camarote.
o cavaleiro ia de garganta em garganta, primeiro com uma certa cerimônia, depois quase descuidado, mal olhando para as vítimas, estava começando a se enfadar e ainda não havia chego a um bilhão.
alguns tinham tempo de implorar, choravam com os olhos no céu ou no chão, a mãe pelos filhinhos, o rapaz por sua mocidade... esses levavam a espada atravessada entre as costelas, que o cavaleiro andava impaciente.
quando já restavam apenas os seres sem pecado e sem razão e eu, o tipo veio querer me cortar a garganta. não que eu fosse especial, que eu fosse imune, que eu fosse muito esperta. mas encarei o sujeito nos olhos, pela primeira vez no dia do Ajuste de Contas ele encarava por mais de dois segundos alguém que estava prestes a matar. acho que ele se confundiu com isso, ou lembrou de ter esquecido o forno ligado. seja o que for, adiou a minha morte até o momento presente. eu diria uns 32 dias de encarar o cavaleiro do Apocalipse, sentir seu hálito sobrenatural, enganar a morte. não tive mais acesso a calendários ou relógios, mas 32 dias soa razoável.
acho que o truque é ficar imóvel e insistente, pois ele tem me levantado a espada ameaçadoramente mas fora isso ainda conservo meu pulso. para falar a verdade depois de tanto tédio já começo a desejar a morte, mas isso passa, então eu não desgrudo os olhos do sujeito. ele realmente deve ter se sentido confuso. ou vai ver que parou pra pensar no que andou fazendo com as pessoas só agora.

o que importa é que estou enganando a morte por mais tempo. e que continuo enganando, e continuo vivendo. só pelo desafio já valeu a pena, penso seriamente em baixar os olhos e ir ter com meus amigos do outro lado, que deve estar em festa.

maria 4:41 PM 0 vociferando estavam

outubro 08, 2007

conceive me- your loving guest.

i stare at your peacefully vain
movements
and your uninspired eyes,
my dull binoculars- all mine
for most of the day.

given that you are
laying
on your bed of hardwood
wrapped in red blankets
drinking
your sacred milk

you have the seeming of a speechless
chess piece
painted plaster
with a hundred eyes hungrily
following me-
yet seeing nothing
bud a bedstand
and a glass of water half-effaced.

i yield myself
to your quiet lazyness, mirror
a sugary dormant
way of killing time.

you, a climbing bittersweet
taking me
down
the unannounced
limbs and branches
reach for the back
of my neck
you whisper to me
your own sordid name.

i let you pretend
you do not remember
my touching your shoulder
the day before.

then i hide in the room
and stare
and stare
and stare.

you see your dresser,
the flowers on it
-how they moan in
their wintering-
but you can never
realize
i am standing
there, beside it.

when i get tired of looking at you, i go out for a swim
or step into the nearest church
to smell the sanctity
of praying candles.

maria 7:13 PM 0 vociferando estavam

outubro 07, 2007

Sunday Bonfire (to Sylvia)

I have your pink book in my hands
in a Sunday morning you will never
see. (you're playing dead
or alive with me)
It has your name on it
it is your book.
I wonder if you would approve
of this pink cover. In the
bookstore I called this color
mine.

One of its pages has been licked
by a dog. Did you used to like dogs?
And what about your babies?
I'm almost sure they did.

This morning i ate my breakfast
in bed and prepared to put off life
only for a few days,
so i myself can become
months
and years become
then slit my tongue

I miss you simply because
you existed. as many other
insignificant things (which
i also miss) did, in their
time.

If you were alive I would tell you about how silly life is in the morning and you would smile like this sun that insists on setting my room
burning.

maria 11:52 AM 4 vociferando estavam

outubro 01, 2007

um título pra isso

falar que preciso de um começo que signifique alguma coisa. isso é um bom começo. de fones propriamente enfiados nos ouvidos tentando ouvir apenas a música. o ônibus passou antes e passaria de novo, na verdade não importava o ônibus. era uma época em que se tinha pernas, e fortes. a panelada, apitos, gritos, faixas, cartazes. eu não estou no brasil. eu não estou no brasil. as pessoas têm nos rostos uma expressão só, que eu ainda não conhecia. um poeta de língua cortada convidava: ''venham ver o sangue''. eu não estou no brasil, anda mais rápido. as janelas do ônibus eram mais altas do que eu. senti alívio apoiei o rosto em alguma coisa fria. a panelada e os apitos no fundo, aumentei o volume. esse homem que canta, delira que estruturas diversas caem em sua cabeça enquanto é tudo tão reto e bem construído. ele já teve a minha idade. por fim e graças a deus eu não ouvia mais nada. até a música calou.

maria 11:41 AM 1 vociferando estavam



ao rés da fala